A COMERCIALIZAÇÃO DE DEUS
Autor: DJALMA LEANDRO
Data: 26/08/2012
Resumo:
A COMERCIALIZAÇÃO DE DEUS
Por insistência de um amigo, fui a uma Igreja, ou Templo, ou Regional, ou casa de orações, ou nave, ou lugar sagrado, enfim tanto nome, para falar sobre a mesma coisa - DEUS, cada um querendo "vender" a seu bel prazer, sempre prometendo (o que não tem, naturalmente, segurança, saúde, felicidade, sucesso, paz, tranquilidade e claro - a cura das doenças...). Estava o orador, falando, falando e falando...e chamou-me atenção sua veemência e excelente oratória indutiva, quando falava sobre o "cartão de bençãos" que consistia em síntese: o fiel inscreve-se, e efetua o pagamento mensalmente, de certo valor, e tem garantido amparo, segurança e a corrente de orações em toda irmandade (no Brasil e fora dele), por 30 dias consecutivos. Aquele que não manter a regularidade nos pagamentos por este ou aquele motivo, fica sem a proteção de DEUS, naquele período de inadimplência... Fiquei a pensar e me perguntei: será mesmo que DEUS faz esta distinção? Fui buscar na história alguma explicação.
Há muitos séculos tudo era explicado através de Deus. Há alguns poucos séculos a garantia da unidade da lei moral e natural deixou de ser Deus e passou a ser a razão humana (o novo deus). Houve uma troca de deuses. A hegemonia da razão propiciou a proliferação das grandes ideologias desenvolvidas a partir do século XIX: psicanálise, marxismo, comunismo, fascismo, nazismo, capitalismo, etc.
Para esses agitados teóricos da época, o homem não precisava observar, pois bastava pensar e especular, naturalmente do nada. Usando sua razão pura o homem poderia descobrir as regras de conduta e da organização da sociedade em harmonia com as leis da natureza. Era tudo muito fácil, bastava usar uma razão inteligente sadia. Mas o que é isso?
A ideia ainda persiste na mente de muitos homens, isto é, esses acreditam que é possível adquirir um conhecimento através de revelações, magias, macumbas e espiritismo, ou seja, sem uso do sistema sensorial, sem a realização de nenhum teste empírico. A elite (a pernóstica inteligência antiga e atual) não tolerava e ainda não suporta imaginar o homem como possuidor, também, de uma vida animalesca. Para esses profundos pensadores, a vida animal se assenta bem nos escravos, serventes de pedreiro, lavradores e nos chamados “homens inferiores”, mas jamais neles. Os sábios pensam e descobrem a verdade.
Seguindo o mesmo trilho, no “Iluminismo”, um pouco mais recente, seus defensores acreditavam poder alcançar qualquer conhecimento utilizando-se somente do intelecto, livre das emoções e do sensorial. Nesse período o poder da razão foi crescendo; tudo podia ser explicado por ela, totalmente livre dos fatos incômodos. O homem não precisava observar. Bastava ter uma lógica interna aparente que partia de uma premissa irrefutável. Esta não tinha como ser provada ou negada, pois era criada para isso: “Deus existe e Deus é bom.Logo, ele não me enganaria quanto às ideias que me ocorrem”.
Outros sábios da antiguidade ainda continuaram aprisionados à velha afirmação divina, interligados aos defensores da razão pura, e defendiam a tese de que nosso pensamento funcionava automaticamente, conforme leis divinas e eternas, em função do desejo do indivíduo, em todas as ocasiões e situações, a não ser que tivéssemos algum “transtorno psiquiátrico”. Mesmo no caso do “louco”, segundo essa crença, o portador da doença poderia, usando sua “razão” livre, escolher ter a maldição expulsa de sua mente. Tudo era questão de ter uma boa ou má vontade. A pessoa poderia expulsar ocapetausando, para isso, uma pequena parte da razão ainda intacta e não dominada pelo poderoso demônio que, sorrateiramente, entrara no seu fraco corpo.
A crença que afirma que somos mais racionais que irracionais insere-se muito mais numa aspiração ou desejo moral que na realidade. Acreditava-se que a partir da razão o homem seria capaz de descrever a realidade como se ela, a natureza, obedecesse a “realidade” existente na mente dos seguidores desse mito.
A cultura, principalmente a Ocidental, ainda se acha presa a essas ideias quando se descreve a fabricação dos julgamentos humanos, a todo o instante elaborados (“Assassina! Mata!”; ou “É uma santa; merece o paraíso”). O engano dessa crença fundamenta-se em outro princípio equivocado: acreditava-se que era possível descartar a emoção subjacente ao julgamento realizado pela razão, isto é, podíamos, caso desejássemos, eliminar o que atrapalhava a razão. Tudo seria simples e fácil, bastava apenas fazer uso apenas da razão pura, livre da perniciosa companhia de alojamento.
(atualmente há cultos específicos para "desalojar"...).
Acontece, que segundo os estudos atuais, isso não é possível; não depende de nossa vontade. Razão e emoção trabalham de mãos dadas. (aliás como tudo homem/universo).
A eterna busca do homem pela aquisição do conhecimento verdadeiro fez nascer uma acirrada discussão entre os filósofos acerca do valor da razão e da emoção. Na maioria das vezes, a razão, supervalorizada, foi defendida como sendo um instrumento importante para obter o conhecimento verdadeiro. Quanto à emoção, por outro lado, houve não somente um desinteresse, mas, ainda, ela foi vista como um obstáculo à obtenção do saber. Esses pressupostos, diga-se de passagem, incorretos, deram nascimento à metáfora: de um lado encontra-se a divindade (razão) e, de outro, o animal “emoção” (diabo). Concordando com essa ideia, Platãorelata, num de seus escritos, que Deus criou em primeiro lugar a cabeça do homem, encarregada do raciocínio, e, posteriormente, foi forçado a criar um corpo com as paixões para permitir à cabeça mover-se de um lado a outro, pois, do contrário, ela não se moveria. Platãoendeusou as ideias, e, ao mesmo tempo, deplorou os sentidos do homem junto com as emoções nele mescladas.
Continuamos no mesmo impasse, por mais que procuremos respostas, não as temos, não adianta seguir "receitas milagrosas, ou seguir este ou aquele segmento, seja o que "espanta o capeta" com um "sprey" seja, o que apregoa que a "meditação" é o caminho certo, seja os que procuram a iluminação no "chá alucinógeno" nas vivências respiratórias, nas receitas cruas, nas vegetarianas, e tantas outras, o homem continua buscando respostas fora, nunca olhando para dentro de si, sempre acreditando ser "diferente e único" sempre dividindo o "mundo" "eu" e "eles" como se "eu" fosse diferente e vivesse num outro "mundo" se proliferando assustadoramente as "crenças". Seria bem mais simples e óbvio, se acreditássemos que somos TODOS UM, como todo o Universo, também natureza..DJALMA LEANDRO/agosto/2012.